Sempre fomos dados a “modas”*, diria modismos.
Diria que agora temos a moda dos passadiços. O seu concelho já tem um passadiço? O meu já! De repente, todos os presidentes de câmara acharam que era o investimento a fazer. Um passadiço.
Não se pode negar que alguns deles até se localizam em zonas aprazíveis de circular, e que ajudam a desfrutar das paisagens naturais e usufruir da natureza, mas parece que de repente todos acharam que concelho que não tem passadiço não é digno do nome.
Antes era a moda das rotundas. Naturalmente que as rotundas têm o seu papel na regulação do trânsito, mas não exageremos.
Todos os concelhos têm muitíssimas rotundas. Se lhes apetecer comer o belo leitão da Bairrada, para quem nunca lá foi, imagine quantas rotundas tem de passar, se sair da A1 e quiser almoçar no último restaurante da Mealhada…umas 10 ou 12!
Aliás, se recuarmos alguns séculos atrás, à Idade Média vemos que até essa altura não havia cultivo de batata em Portugal, sendo a castanha o substituo culinário desta. A dada altura, alguém se lembrou de a cultivar no país, e bem. Acontece que a partir daí, muitos se lembraram de fazer o mesmo. Resultado, uma crise de superprodução do tubérculo. Muita batata não tinha escoamento no mercado.
Há algumas décadas atrás, foi a criação de suínos. O mesmo, de repente “todos” a criar o animal, procura inferior à oferta, preços a baixar, crise no mercado, falências.
Posteriormente, alguém se lembrou de abrir croissanterias. Em cada esquina, passou a estar plantado um desses estabelecimentos. Resultado previsível, 1-2 anos depois, muitas a fecharem, mas aqui a vantagem que na maior parte dos casos, o retorno do investimento verificava-se ao fim de um ano. Sorte!
Rotulo estes casos de “síndrome da batata”, tomando como referência o relatado anteriormente.
Tudo isto revela a atitude normal endémica do pequeno investidor, nestes últimos casos referidos e alguma falta de imaginação, nos primeiros dois.
Não obstante as oportunidades de negócio que possam surgir – congratulem-se os pioneiros, em cada um dos casos referidos – parece que, quando alguém desenvolve alguma ideia, muitos vão logo atrás, sem medir as consequências e se o mercado o irá permitir. Relembro as primeiras aulas básicas de economia, que para haver oferta, tem de haver procura, por isso quem quer actuar no mercado, tem de ter a capacidade de o avaliar, de perceber se irá ter procura para o seu produto, enfim de planear.
Mas, em grande parte dos casos falta planeamento, quer a nível central e institucional, quer a nível local, mas também a nível de algumas decisões empresariais. Não gostamos de pensar em investimentos a prazo, quando investimos, queremos ver logo o resultado no curto prazo, queremos a rentabilidade nos meses ou no ano seguinte, e na maioria dos casos isso não é possível, mas como não gostamos de planear acabamos por ser surpreendidos por um mercado que não reage da forma que gostaríamos.
O modismo tem a característica de ser efémero, perante o entusiasmo inicial, se poderá seguir o desinteresse, o efeito de novidade, a apatia.
Não se deve simplesmente copiar, seguir os modismos, antes pelo contrário, é necessário tentar criar sempre algo de novo, diferente do existente, que o consumidor ou o cidadão, entenda como interessante, necessário, relevante, que lhe traga valor.
É, pois, preciso planear. Alguns justamente o fazem, mas em muitos casos isso não acontece, o que leva nalguns casos a muitas falências, noutros casos no mínimo à má utilização de recursos públicos e privados.
*modismo entre aspas, querendo atribuir à palavra um sentido menos positivo, não se referindo por exemplo, à moda de vestuário ou de design.
Carlos Manuel de Oliveira
27 Fevereiro 2021
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